+ A Travessia (2015) | Arte da arte
Com estes minutos iniciais, Aliados, um conto da Segunda Guerra Mundial, testa o espectador com
um charme usual do astro principal do filme, lado a lado da química e talento incomparável
de Marion Cotillard. Desse modo,
durante o extenso primeiro ato, o casal recebe a missão de assassinar um
nazista de alta patente no ano de 1942 em Marrocos. Logo após, eles se apaixonam e constituem uma vida comum
para a época.
Depois dos primeiros 50 minutos em que o filme lentamente
desenvolve os seus personagens com humor, romance e pouco drama, o segundo ato
entra em um trillher muito similar com aquele que o Pitt já protagonizou em Sr. e Sra. Smith de 2005, no qual a personagem
de Marion é acusada de ser uma espiã, o que, deste modo, desenvolve elementos
tensos, dramáticos e estilosos como o diretor sempre fez muito bem.
O talento de Zemeckis em suas mise en scène e de montagem
retornam com a competência esperada. Diversas cenas são elegantes ao usar o
espaço na contação de história, assim como os figurinos belíssimos e do design
de produção que transformam o ambiente de conflito em algo harmonioso, o que
acaba por adiar e enganar o público do desastre final. O mesmo pode ser dito
para a música do sempre dedicado Alan
Silvestri que retorna com um drama parecido com o seu último trabalho com o
diretor, mas ainda belo, algo que cria emoção e uma sensação que se
distancia do brega.
Os astros, por outro lado, mesmo com uma boa dinâmica,
atuam de modos similares, o que acabam ocasionando uma sensação déja vu, assim como
o diretor que, mesmo com muitas qualidades e competências que o fizeram um dos
melhores diretores das últimas gerações, dirige aqui em um piloto automático
em diversos momentos.
O primeiro ato, por exemplo, apesar de encantador com a sua construção de
época e criativo em suas situações, como uma que envolve cartas e outra de
sexo, desenvolve os personagens com previsibilidade, o que consequentemente torna o terceiro ato
fraco, já que a sensação se esvai. Deste modo, as passagens gratuitas são longas e as suas duas
horas ficam cansativas com tantos atos extensos e com poucas sequências que
desenvolvam bem os seus personagens.
Terrence Malick
Terrence Malick
No entanto, as grandiosidades da construção de universo com todos
os seus detalhes criam um realismo digno que excluem muitos dos problemas
estruturais de roteiro. Na verdade, mesmo com uma direção de piloto automático, o
diretor ainda consegue se sair melhor do que muitos outros em seus melhores dias.
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